Faces do Natal

Foi numa Noite de Natal que, alheio às comemorações, Gilson caminhava numa rua vazia do subúrbio. Decidira não voltar para a casa depois do trabalho, pelo menos não por hora. Sentia, e muito, a falta dos pais, falecidos num desastre de avião há poucos meses e, assim, naquele Natal não tinha motivos para comemorações. Seguia na caminhada, cabeça baixa, sem destino. Até que, quando passou próximo de uma praça, um menino se aproximou Gilson sentiu a aproximação e reparou que se tratava de um menino de rua. Tentou desprezar a situação até que viu algo parecido com uma faca em uma das mãos do menor e em seguida ouviu: "É um assalto. Passa tudo, rápido". Gilson, conhecedor de artes marciais, parou, retirou o relógio com calma e ofereceu. Quando sentiu um bracinho magro se estender, aplicou um golpe rápido e desarmou o pequeno assaltante. Num outro golpe, imobilizou o menino que passou a gritar pedindo socorro. "Calma", disse tentando acalmar o garoto. Depois de um tempo conseguiu acalmá-lo. "Não vou te machucar."; "Desculpa, tio."; "Não desculpo, não. Onde está sua mãe?"; "Em casa."; "Onde é sua casa?": "Longe."; "E o que você faz aqui sozinho, tentando assaltar os outros?"; Silêncio. Gilson então soltou o menino que, ao invés de correr, ficou ali parado olhando para ele. "O que foi?"; "O senhor não vai me bater?"; "Não. Vá embora!"; "Obrigado."; "Obrigado, por quê?"; "Por não me bater.": "Vai embora moleque, antes que eu esqueça que hoje é Natal."; "Natal?"; "Sim.": "E o que é Natal?": Gilson voltou seu olhar até o garoto, que também olhava pra ele, e viu a curiosidade estampada naquele olhar e respondeu: "Um dia em que não se bate num fraco abusado."; "Ah, então o Natal é bom."; "Sim, é legal! Agora vá embora."; "Tá, eu vou. Pode deixar que não vou roubar ninguém. Vou voltar pra casa.", disse o menino antes de sair em disparada, deixando Gilson impactado com a frase e com a infância que encontrou naquele "pivete". Continuou ali, parado, pensando na pergunta: "O que é o Natal? Depois olhou para o céu e respondeu: "Obrigado. Agora eu sei". Ubirajara Oliveira Extraído da Revista Visão Missionária 4T14 - UFMBB

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *