Um amor maior

Era só uma mulher. Uma simples mulher que tinha uma filha. Uma filha doente. Doente de morte. De vergonha. Doente da alma. A mulher procura a cura. Busca em remédios. Tenta médicos. Vai a curandeiros. Mas não encontra. Dói o coração. Dói a vida. Consola as lágrimas. Enxuga o pranto. Sofre a dor de mãe. Há muito não dorme. Já não come. Só sofre com a dor da cria, que geme, que definha e que caminha em passos largos para o fim. Mas a mãe não desiste. Não aceita perder a filha. Luta. Onde acende uma esperança ela vai. Um dia alguém fala de um Hebreu. E o nome soa diferente. Dizem que está no país. Na casa de alguém. A mãe não conhece Abraão, não conhece Jacó, não faz parte das Promessas. Não conhece a Lei de Moisés. Mas o amor pela filha faz com que ouça a voz do vento. E ela vai... Simplesmente vai. Sente a dor do amor em cada passo, mas vai. Anda desesperadamente por horas, até que chega à casa. Logo é repreendida por alguns homens. “O que quer?” “Que minha filha tenha vida.” “Não é possível! O Mestre não quer ser incomodado!” Ela silencia. Chora na alma. O corpo dói. O coração dispara. Olha para os homens. Lembra da filha. Num súbito, sai correndo. Passa pelos homens. Corre. Corre. Corre da dor, dos homens, do cansaço. Corre. Chega à porta. Bate. Bate. Bate mais forte. Até que Alguém abre. Ela encontra um rosto cansado, mas neste mesmo rosto cansado, um olhar. Familiar. Profundo. Ele estende a mão. Os homens param. Ele olha para a mãe e pergunta: “O que quer?” Ela vomita palavras: “Senhor, minha filha sofre. É vitima de um espírito imundo.” O Homem olha mais uma vez e diz: “Não é bom que eu tire o pão dos donos e dê para os cachorrinhos.” A frase é dura. Machuca o coração. Fere o pouco orgulho que ainda resta. Mas o amor é maior. Maior que o orgulho. Maior que os pensamentos sobre certo ou errado. Maior que a própria vida. Ela clama: “Senhor, para os cachorrinhos bastam as migalhas que caem da mesa dos donos!” Há um silêncio, até que se ouve: “Mulher, grande é a tua fé. Vá, sua filha está curada!”. Aquela mãe sente aquela voz. Sai em disparada de volta pra casa. Corre. Corre. Corre. Chega ao quintal. Para. Está exausta. Precisa de água. De repente ouve... “Mamãe”. Entra no quarto e vê a filha. Linda. Sorrindo. Com os braços abertos para recebê-la. A mãe corre ao encontro da filha. Abraça. Beija. Chora. Passou a dor, a vergonha, a humilhação... Acabou... No coração um “muito obrigado!” Na lembrança, aquele olhar que jamais esqueceu. Ubirajara Oliveira Jornalista, Rio de Janeiro (RJ) Extraído da Revista Desafio Missionário, UFMBB – 2T13

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