Morte legalizada

O mundo está tomado pela violência. Violência social reivindicatória (talvez legítima), violência política, violência doméstica, violência da marginalidade, violência ilógica (sem motivo), violência pela violência. Disso decorrem, indubitavelmente, perdas, mortes, assassinatos. No plano humano discute tipos de penas para as mais variadas formas de crime, indo de prestação de serviços comunitários à pena capital (morte). Embates jurídicos, antropológicos, culturais e sociais mesclam a gama de viabilidades a uma morte admitida.

Vidas que chegam e vidas que se vão, flores de nascimento, flores de falecimento, cotidiano de nosso velho e desgastado mundo.

Porém, se alterarmos o prisma e focarmos a realidade subjetiva, pertencente à fé, ou seja, ao mundo espiritual, vamos nos deparar com orientações e determinações do Criador dando conta da necessidade de recorrermos a esse expediente - mortes legalizadas.

No plano material e secular não há dificuldades em defrontar-se com assassinos de pessoas, animais e da própria natureza, pois, não é difícil praticar tais desatinos. Contudo, no plano mais elevado, no plano supra-humano, no plano de possibilidades de acesso à Divindade. o fator morte torna-se mais complicado e difícil.

Vivemos chafurdados em profundo vale de lágrimas e infortúnios, almejamos, a todo custo, catapultar-nos de tal lugar – buscamos o céu, o resgate do perdido paraíso adâmico. Por isso, para essa macrofaçanha, acesso à shekinah, exigentes requisitos se apresentam.

O Senhor Jesus lembra a todos que o "homicídio", o "infanticídio" e até o "suicídio" se alinham como elementos básicos à postulação de um lugar ao lado do Soberano do Universo. Refiro-me a um esvaziamento total, absoluto e incondicional. De uma certa forma, precisamos "matar" a nós mesmos, isto é, o nosso ego, o nosso eu; relegar a planos secundários todos os outros tipos de relacionamentos. "Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs. e até sua própria vida mais do que a mim. não pode ser meu discípulo (...) qualquer de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo" (Lc 14.26.33). É exigida absoluta renúncia - morte legalizada - de tudo aquilo que possa estorvar ou eclipsar o brilho do Mestre em nossa vida.

Quanto mais cedo compreendermos isso, melhor; quanto mais tarde, pior, pois se mantivermos o status quo secular, não passaremos de meros sonâmbulos nesta existência, apenas espectros, fantasmas que caminham em direção ao nada de um precipício anunciado.

Não cabe nada e ninguém, além do Senhor, no centro de nossa vida. Não podemos possuir nada, pois tendemos a ser possuídos pelas posses deste mundo. É requerido que sejamos simples mordomos, dedicados administradores dos bens de outrem. Nada temos nada possuímos. Tudo o que amealhamos ao longo desta vida pertence a Deus e Ele, até aqui, tem permitido que cuidemos de tudo para Ele. Por isso, lembre-se: pode ser que nunca tenha tocado em arma letal, todavia, há uma modalidade de "morte" que a você é permitida e, saiba, ela não o levará para a prisão e sim para a verdejante campinas da liberdade.

Bem disse o apóstolo Paulo: "Já estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu. mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2.20).

Pastor Vicêncio Nunes
Extraído da Revista Desafio Missionário – 4T09

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *