Gente especial

No silêncio da noite, um ruído de tosse. Cássia desperta e rapidamente vai até a cama da filha, Vitória. Limpa a secreção que sai da boca da menina e pergunta se está tudo bem. A resposta é um olhar sereno que a mãe entende muito bem. Então sorri para a filha, beija seu rosto e volta para a cama. Antes de voltar a se deitar e viver mais alguns minutos de sono, agradece a Deus pela vida da pequena Vitória.

Em oração lembra a gravidez complicada e do parto demorado. Tão demorado que custou segundos de oxigenação no cérebro da filha que resultou numa menina especial que não fala e não tem movimentos em braços e pernas. Tal realidade mudou a vida de toda a família, em especial a de Cássia que desde o diagnóstico passou a priorizar a filha, com visitas constantes a médicos e clínicas de fisioterapia, procedimentos fundamentais para manter a vida de Vitória.

Não havia mais vaidades de mulher; nem a atenção do marido que, dois anos depois do nascimento da menina, decidiu ir embora: “Viver sua vida”.

Não saia, pouco passeava e quando o fazia era as voltas na região sempre acompanhada da filha com quem conversava sobre as árvores, frutos e pessoas.

Algumas vezes questionou Deus sobre os motivos de ter sido “logo ela”. Precisou ser forte para vencer a depressão em vários momentos.

Mas resistiu aos comentários e aprendeu a lidar com a tristeza a cada diagnóstico médico que apontava Vitória como uma chama que aos poucos se apagava.

Porém, havia algo que se renovava sempre que mãe e filha se encontravam: O olhar de Vitória. Sempre sereno e terno. Quantas vezes Cássia encontrou aquele olhar nas manhãs, tardes e madrugadas, sempre com uma mensagem diferente.

Foi num destes encontros, quando a menina sofria a dor de mais uma pneumonia e “queimava” em febre num hospital, que, já sem esperança, Cássia, ao limpar o rosto da filha, viu a menina abrir os olhinhos e sorrir. A partir deste dia, Cássia parou de questionar o Criador, e descobriu Nele um Parceiro para a vida.

Não esconde de ninguém a luta diária, porém a cada dia vive por uma força inexplicável que a faz levantar e continuar, apesar de todas as intempéries. E assim segue agradecendo a Deus “Por ser especial, já que só uma pessoa especial pode ter um filho especial”.

Ubirajara Oliveira - Jornalista
Extraído da Revista Visão Missionária – 4T13

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